Plano Safra destina R$ 516 bilhões ao agronegócio empresarial, mas especialistas veem risco de frustração

  Leandro Marmo aponta crédito rural caro, baixa execução e dependência bancária como entraves ao setor



O governo federal lançou nesta terça-feira (1º), no Palácio do Planalto, o Plano Safra 2025/26 focado no agronegócio empresarial, com previsão de R$516,2 bilhões em crédito, alta nominal de 1,5% sobre a safra anterior, mas sem ganho real diante da inflação de 5,32%. A estratégia mira principalmente operações de custeio e comercialização, que concentram R$414,7 bilhões, enquanto os recursos para investimentos recuaram para R$101,5 bilhões. 

Para o advogado especialista em direito do agronegócio, Leandro Marmo, o anúncio é volumoso, mas “não basta anunciar cifras recordes se o dinheiro não chega de forma prática e com taxas viáveis ao produtor”, afirma. Na tentativa de reduzir o impacto da Selic em 15% ao ano sobre o campo, o governo elevou para R$113,8 bilhões os recursos com juros equalizados, somando R$189 bilhões ao incluir outras linhas controladas. 

Mesmo assim, o especialista chama atenção para a fragilidade estrutural do crédito rural brasileiro. “Esses R$516 bilhões não são recursos colocados diretamente pelo governo; dependem da iniciativa dos bancos, que mostram crescente resistência em operar essas linhas, sobretudo com juros controlados ou regras que afetam a rentabilidade das operações”, explica. 

Segundo ele, o histórico recente reforça essa preocupação: em 2024, foram anunciados R$508 bilhões, mas apenas cerca de R$400 bilhões foram efetivamente contratados, número bem abaixo do custo total da safra, estimado em mais de R$1,5 trilhão.

O novo plano estabeleceu taxas de custeio em 10% ao ano para médios produtores e 14% para os demais, enquanto para investimentos variam de 8,5% a 13,5%, conforme o programa. O Pronamp, linha voltada ao médio produtor, terá R$69,1 bilhões e novo teto de renda anual de R$3,5 milhões. “O problema é que, mesmo as linhas subsidiadas, contam com aporte governamental muito baixo. Apenas R$15 bilhões vão equalizar os juros de 30% do volume anunciado. Isso deixa 70% do crédito nas mãos do mercado, com juros superiores a 20% ao ano”, destaca Marmo. Ele acrescenta que, ao somar encargos obrigatórios, cartórios, elaboração de projetos e venda casada, o custo real ultrapassa facilmente os 30% ao ano, corroendo margens e inviabilizando investimentos.

Apesar do governo argumentar que o aumento das taxas ficou abaixo da variação total da Selic, produtores e entidades do setor demonstram preocupação com o alto custo do financiamento e o impacto na competitividade. Para Leandro Marmo, a política agrícola precisa ser urgentemente modernizada e ganhar previsibilidade. 

“Enquanto países como EUA, França e Alemanha destinam entre 30% e 50% de subsídio direto aos produtores, o Brasil mal chega a 2%. A falsa ideia de que o agro é autossuficiente máscara a dependência de insumos caros e de crédito arriscado, o que ameaça a renda no campo e a própria segurança alimentar do país”, conclui.


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