A expressão "telhado de vidro" é uma metáfora popular poderosa que serve de alerta contra a prática de apontar erros alheios sem antes fazer análise crítica de si mesmo. Amplamente usada no discurso cotidiano, ela ganha força ao ser observada sob a ótica religiosa, onde o conceito de hipocrisia é largamente condenado. Ditados populares como “quem com ferro fere, com ferro será ferido” reforçam a ideia, mostrando que há uma sabedoria ancestral no reconhecimento dos perigos de se viver incoerentemente, quando se está exposto a julgamento.
Nesse contexto, a palavra hipocrisia pode ser encarada como um sinônimo direto de fingimento. A imagem do “telhado de vidro” funciona como um aviso claro: quem mora sob ele não deve atirar pedras. Julgar sem base ou autoridade moral é um ato arriscado, pois abre brechas para que os mesmos julgamentos recaiam sobre o próprio acusador. Ao jogarmos pedras, figuradamente, sobre os outros, ignoramos que nossa própria estrutura, se fragilizada, pode ser facilmente atingida. O resultado da inconsequência pode ser de difícil reparação.
Ninguém deseja ser alvo desse tipo de destruição. O telhado de vidro, além de frágil, representa algo caro e de difícil restauração. Transladando essa metáfora para a vida pessoal, podemos entender que a reputação, a integridade e os relacionamentos são valores frágeis, cuja reconstrução exige tempo e esforço. Por isso agir cautelosamente antes de denunciar falhas alheias não é apenas uma questão de ética, mas também de prudência. Aquele que critica o outro, mas ignora sua própria conduta, se torna alvo fácil das críticas e escândalos.
Manter silêncio pode, em muitos casos, ser mais sábio do que criticar abertamente. Preservar amizades e a própria imagem depende de equilíbrio e discrição. A crítica pública pode até parecer uma forma de justiça, mas não raro se revela apenas um impulso egoísta de superioridade moral. Já uma advertência discreta, oferecida com respeito e empatia, tem maiores chances de ser bem recebida. Cautela não significa conveniência, mas maturidade. Alertas privados podem corrigir sem expor. Porém denunciar em voz alta pode humilhar e afastar.
A maledicência é como arma de dois gumes. Quando usada sem provas, pode destruir a imagem do outro, mas também minar a credibilidade de quem a profere. A justiça popular tende a voltar-se contra o difamador tanto quanto ou até maisforte que o ataque. São os efeitos da conhecida “lei do retorno”. Esta, embora não explicitada nos textos sagrados, simbolicamente está presente em passagens indicativas de nossas ações. Boas ou más, elas hão de retornar em igual proporção. É um princípio ético que impõe responsabilidade sobre o que dizer.
A crítica só faz sentido se for baseada na correção pessoal e em verdadeira autoridade moral. Essa condição, como ensinam os filósofos gregos, especialmente Aristóteles, é construída com base no Ethos, a ética pessoal que deve anteceder toda e qualquer fala. Uma personalidade ética convence não apenas pelo discurso, mas sobretudo pelo exemplo. Por isso, antes de acusar alguém, o acusador deve se autoanalisar. O verdadeiro poder da palavra está na coerência entre o que se fala e o que se vive. Só os imaculados têm autoridade moral para acusar!
João Teodoro da Silva
Presidente – Sistema Cofeci-Creci – 10/JUL/2025
(Neurocientista Comportamental)