Especialista em mercado imobiliário, Daniel Claudino analisa o impacto do crédito em queda no cenário nacional e destaca particularidades do mercado goianiense
Mesmo com o bom desempenho do Minha Casa, Minha Vida, o setor imobiliário acende o alerta para a escassez de crédito à classe média. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) aponta que o financiamento para a produção caiu 49% entre janeiro e abril de 2025. Em 2024, o volume foi de R$ 50 bilhões. Neste ano, a projeção é de apenas R$ 20 bilhões.
A queda é puxada pelo esvaziamento da poupança, principal fonte de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Desde 2021, foram mais de R$ 200 bilhões em saques líquidos, segundo o Banco Central. Só em maio de 2025, R$ 10,3 bilhões foram retirados. A Abrainc alerta que essa tendência deve continuar nos próximos meses.
Apesar desse cenário crítico em boa parte do país, o impacto em mercados como Goiânia tende a ser diferente da média. A capital goiana abriga um ecossistema de incorporadoras bem capitalizadas, muitas das quais operam com menor dependência de financiamento tradicional. “A capital goiana abriga um ecossistema de incorporadoras bem capitalizadas, muitas das quais operam com menor dependência de financiamento tradicional”, aponta Claudino.
No Brasil, os empreendimentos imobiliários costumam ser estruturados por meio de SPEs (Sociedades de Propósito Específico), modelo padrão do setor para viabilizar projetos com crédito bancário.
Contudo, em Goiânia, o uso das SCPs (Sociedades em Conta de Participação) tem se tornado mais frequente. “Chama atenção o uso mais frequente das SCPs (Sociedades em Conta de Participação), em que “clube de investidores” aportam recursos diretamente nos empreendimentos, podendo optar por converter esse capital em unidades ou receber participação nos lucros”, afirma Claudino.
Além disso, o especialista destaca que a recente mudança no plano diretor da cidade tem impulsionado os lançamentos imobiliários. “Bairros estratégicos como Bueno, Oeste e Jardim Goiás definidos como zonas de desaceleração, as construtoras que já tinham projetos aprovados estão sendo pressionadas a lançar imediatamente, sob risco de perder o direito de verticalizar nesses terrenos”, explica Claudino.
No cenário mais amplo, Goiânia vive um momento particular dentro do mercado imobiliário nacional. Enquanto outras regiões enfrentam a perspectiva de um apagão de imóveis para a média renda, Claudino conclui que o mercado local segue aquecido. “Esse aquecimento é sustentado por capital privado e por uma janela regulatória que impulsiona os lançamentos” conclui o especialista.