De copeira a assistente administrativa: Ana Lúcia inspira com trajetória de superação no IgesDF

     Primeira da família quilombola a conquistar diploma superior, mãe solo e mulher preta mostra que determinação e coragem transformam vidas

foto Alberto Ruy.

 Por trás de cada crachá no Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IgesDF), há uma história. Mas poucas são tão inspiradoras quanto a de Ana Lúcia Pereira da Silva, uma mulher preta, mãe solo, de origem quilombola, que saiu da cidade de Cavalcante (GO) e mudou o rumo da própria vida com muito esforço, coragem e determinação.

 “Eu entrei no Iges em julho de 2024 como copeira. Me cadastrei por meio do site, cumpri todos os requisitos e atualmente estou lotada na Diretoria da Presidência, na sede administrativa do Instituto,” conta Ana, com a voz carregada de orgulho.

 O caminho, porém, não foi fácil. Enquanto servia cafés e organizava bandejas, a assistente administrativa nunca deixou de sonhar com uma oportunidade maior. “Eu sempre ficava de olho, esperando abrir uma vaga para um novo cargo. Porque quando a gente entra, a gente tem que buscar melhorias, não pode se acomodar. Eu buscava uma nova expectativa de vida”, relembra.

 Foi assim que surgiu a chance de concorrer ao cargo de assistente administrativo. Ela encarou o desafio, fez a prova junto com mais de mil candidatos e conquistou a 89ª vaga. “Eu sonhei muito com essa vaga. Graças a Deus, consegui por mérito próprio. Cumpri todos os requisitos e hoje fui convocada para trabalhar na farmácia do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Estou muito feliz, muito grata”, comemora.

 A trajetória de Ana carrega ainda um simbolismo poderoso. Ela é a primeira pessoa da família a concluir o ensino superior, formou-se em enfermagem. E não esconde o orgulho das próprias raízes.

 “Eu sou de uma família quilombola. E a mensagem que eu quero deixar é que a gente pode estar em qualquer lugar, seja como assistente, médico, enfermeiro... não importa. Se tiver força, a gente consegue. Nós devemos ocupar todos os cargos, porque vidas pretas importam. E onde tiver uma mulher preta, vamos estar lá, sim!”, afirma.

 O caminho até aqui foi construído com muito sacrifício. Como mãe solo, Ana precisou de uma rede de apoio para cuidar do filho enquanto corria atrás dos seus sonhos. “Não é uma batalha fácil. A gente precisa confiar a vida do nosso filho a outras pessoas, sair cedo, batalhar, lutar diariamente não só por mim, mas também por ele”, revela.

 

foto Alberto Ruy.

Equidade e reconhecimento

 Ana faz questão de destacar o quanto se sentiu respeitada durante todo o processo seletivo. “Fui tratada com muita igualdade, com muita equidade. A equipe do IGES sempre me tratou bem, sem distinção. Porque, infelizmente, a gente sabe que existe preconceito em vários lugares, mas aqui eu fui tratada de forma justa, como qualquer outro candidato”, relata.

 A conquista da vaga de assistente é, para ela, a realização de um sonho, mas não o fim da linha. O próximo passo é garantir um futuro ainda melhor para seu filho. “Meu maior sonho agora é que ele cresça um rapaz educado, feliz. Não vou ficar parada. Com meu diploma de enfermeira, também posso tentar um processo seletivo para essa vaga. Quem sabe mais para frente”, diz.

 Ao olhar para trás, ela deixa um recado simbólico para si mesma. “Se eu pudesse falar para a Ana de 2024, eu diria: parabéns, você conseguiu! Você chegou lá, conquistou o seu sonho. Porque esse era o meu grande sonho, passar no processo seletivo de assistente administrativo. E eu consegui.”

 E deixa, também, uma mensagem para quem, assim como ela, carrega sonhos no peito. “Se você existe, é porque tem um sonho. E esse sonho é para ser realizado. Não importa se você é mãe solo, mulher preta, não importa a diversidade. A gente não pode ficar na zona de conforto. Tem que correr atrás, tem que lutar. Eu corri e consegui. E você também pode.”

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