Selic alta pressiona setor produtivo

Brasil tem o terceiro maior juro real do mundo e isso impacta negativamente sobre empresas e famílias, diz o empresário José Roberto Colnaghi

 

José Roberto Colnaghi, presidente da Colpar Brasil, antiga Asperbras, fala sobre alta de juros Selic e desemprego.

O Banco Central vem subindo a taxa básica juros da economia, a Selic, desde setembro do ano passado. Com o nível atual, de 14,75%, definido na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o Brasil ocupa a terceira colocação no ranking de país com o maior juro real do mundo, atrás apenas de Turquia e Rússia.

Faz sentido que os juros fiquem em um patamar restritivo por mais tempo. Agora o momento é de pensar como vamos reagir, e não o que vamos fazer”, declarou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento em São Paulo, referindo-se à incerteza internacional decorrente da política tarifária do governo dos Estados Unidos.

Os efeitos sobre a economia real de juros tão altos são bem conhecidos: retração dos investimentos, queda na criação de empregos e limitação do crescimento das empresas. “Uma Selic neste nível impõe uma pesada carga sobre o setor produtivo brasileiro”, diz José Roberto Colnaghi, presidente do Conselho de Administração da Colpar Brasil, grupo que atua em diversos segmentos industriais e do agronegócio.

O próprio Banco Central reconhece os impactos adversos que essa política traz para as companhias. Conforme aponta o Relatório de Estabilidade Financeira divulgado pela instituição, a escalada da Selic começa a comprometer a saúde financeira tanto das empresas quanto das famílias.

Os dados mostram que o nível de endividamento corporativo segue alto, enquanto o índice que avalia a capacidade das empresas de honrar seus encargos financeiros sofreu queda acentuada. Há uma tendência clara de deterioração na capacidade de pagamento do setor empresarial. O relatório ainda alerta para uma rentabilidade mais baixa das companhias em comparação ao período da pandemia, num cenário no qual o custo para captar recursos deve continuar subindo.

No caso das famílias, os indicadores de renda, emprego e atividade econômica são positivos. No entanto, mesmo diante dessas boas notícias, o comprometimento da renda familiar com o pagamento de dívidas está historicamente elevado e crescendo. O Banco Central observa que, entre os tomadores de crédito no sistema financeiro, esse comprometimento aumentou em praticamente todas as faixas de renda.

O relatório aponta para um cenário internacional ainda incerto por influência da condução da política econômica dos Estados Unidos. As indefinições sobre a política comercial do governo Trump levanta dúvidas sobre a trajetória da inflação global e da desaceleração da atividade na maior economia do mundo, o que impacta os demais países.

“Não há dúvidas de que este ambiente de incerteza afeta a economia global, mas é difícil de entender porque os juros no Brasil alcançam patamares muito mais elevados do que vemos nos nossos vizinhos na América Latina”, pontua José Roberto Colnaghi.

José Roberto Colnaghi, da holding Colpar Brasil, antiga Asperbras Brasil. (Foto: Divulgação/Colpar Brasil)

Instrumentos de crédito como Letras de Crédito Imobiliárias (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Debêntures Incentivadas de Infraestrutura são mecanismos que dão aos setores beneficiados alternativas de financiamento mais em conta.

Neste contexto, a indústria é mais penalizada porque não dispõe do mesmo arsenal que os outros segmentos. Recentemente, instituições de fomento como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) começaram a operar com a Letra de Crédito do Desenvolvimento (LCD), um título de renda fixa oferecido ao mercado pelo setor financeiro.

A expectativa é que a LCD possa dar novo funding a esses bancos de fomento e, ao fim, beneficiar o setor industrial, além dos demais segmentos que recorrem a essas instituições. Vale ressaltar que o crédito caro inibe ainda a aquisição de bens por parte da população porque os financiamentos ficam caros, o que também prejudica a indústria.

Para José Roberto Colnaghi, embora o controle da inflação seja uma missão legítima da política de juros, o rigor excessivo pode sufocar a espinha dorsal da economia. “É preciso encontrar um equilíbrio que preserve a estabilidade sem comprometer a vitalidade do setor produtivo. Caso contrário, corremos o risco de minar não apenas a recuperação econômica imediata, mas também as bases do crescimento sustentável a longo prazo”, finaliza Colnaghi.


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